terça-feira, 1 de março de 2011

Ofusca Letrado com Som 2: Pés


Eram ares de céu azul

Vindos das cores de sol brilhante

O vento soprava espalhando o dia

Que lambia os descalços pés pequenos,

Vários deles, aos pares

Acordavam

Massageando a terra que os mantinham

E mantinham o dia

Que cabiam nos dias

De negros girinos no córrego de rio doce

E dos jogos salgados de bola

Das trilhas pelo mato

Ah! o verde cheiro de mato

Pés que cabiam em pinguelas

Pulavam cordas e medos

Subiam em pés de fruta

Colhiam frutas do pé

Ah, pequenos, onde foi que criastes raízes?

Onde estão os teus doces frutos?

E quando a noite chegava roubando-lhes a luz

Iluminavam-se de vagalumes e constelações

Numa grande roda marcavam o compasso de longas prosas

Diariamente, noturnas

Rodeada de um negro punhado de pares

Que levavam nos pés a história de um dia

De dias feitos de pequenas pegadas

Histórias desfeitas em sabão e água

Para dormirem...

Repouso sereno de pés pequenos

Que mesmo em miniaturas

Sustentavam uma vida tão grande

Mas de uma leveza autossustentável

Dormiam para um novo dia lamber-lhes

E avançarem mais um milímetro

Foi assim que as pegadas aumentaram

Tanto

Até sumirem...


Hoje, ao som de fusca e laralaiás de Walter Franco e "A vida é dura" com Demônios da Garoa e Benito di Paula

2 comentários:

  1. Infância,

    Subir em pés de fruta, colher as frutas do pé, ir até o "olho" das árvores, seu ponto mais alto, armar gangorras improvisadas, dependurar-se...
    Toda criança deveria ter, por direito, um quintal, onde pudesse andar descalça e "suja" de vida!
    Gostei muito desse poema, Comps!

    Beijo!

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  2. É Roque, sugestão mais do que pertinente ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
    E para sustentarmos essas crianças "sujas" de vida em cada um de nós, vivamos aquele "viver intrépido"! rsrs
    beijoo!

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